TEMPO DO CORPO: A dança contemporânea não escolhe corpos nem idades

Sofia Silva e um elenco de 18 intérpretes estão há 9 dias em Estarreja a preparar o espetáculo “Tempo do Corpo”. Em cena no Cine-Teatro no próximo sábado, 29 de março, às 21h30, este projeto de dança contemporânea, com maiores de 60 anos, chama os cidadãos locais ao palco.

quinta, 27 de março 2014

Sofia Silva e um elenco de 18 intérpretes estão há 9 dias em Estarreja a preparar o espetáculo “Tempo do Corpo”. Em cena no Cine-Teatro no próximo sábado, 29 de março, às 21h30, este projeto de dança contemporânea, com maiores de 60 anos, chama os cidadãos locais ao palco.

Marcação de luzes e lugares, definição de figurinos. Nos minutos que antecederam o início do ensaio (a três dias do espetáculo), dezenas de pessoas ziguezagueavam pelo palco do Cine-Teatro de Estarreja. O grande dia está a chegar e o nervosismo ataca qualquer um, mesmo os mais experientes.

“Tempo do Corpo” é um espetáculo com participação da comunidade que faz parte da oferta cultural do Cine-Teatro de Estarreja e que envolve, além de participantes com idades entre os 60 e os 93 anos, da coreógrafa Sofia Silva, da assistente Anne Kristol e técnicos, também o empenho e dinâmica das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) do concelho que prontamente se associaram ao projeto.

Mostrar “o corpo como documento da vida” é o principal propósito de Sofia Silva com “Tempo do Corpo”. Para a coreógrafa, o facto do elenco variar consoante o local onde é apresentado torna o projeto “mais interessante” já que se consegue “chegar a mais pessoas” e descobrir “cada vez mais corpos diferentes e reações diferentes” às propostas de movimento.

A ideia não é entreter

Todo o trabalho desenvolvido visa a participação num projeto artístico e sua construção. Apesar de ser “a curiosidade o principal fator que faz com que as pessoas participem”, as dimensões social e artística são, para Sofia Silva, o mais importante neste trabalho. “A arte é importante não só para os artistas, mas para qualquer ser humano, para o seu desenvolvimento intelectual, sensitivo, interior, exterior, abertura das capacidades de visionar e sentir a vida”, destaca a coreógrafa. A “valorização de cada pessoa através da arte, humanamente e socialmente” dá pertinência a este projeto e, “apesar de não dar conta” o grupo termina o espetáculo “com mais qualquer coisa no seu interior”.

O interesse está na expressividade de cada um

Agora vamos ser artistas”. Elsa Dominguez, da freguesia de Canelas, tem 67 anos e confessa que está a ser uma experiência “diferente”. A curiosidade também foi a principal motivação: “gosto de coisas que nunca fiz e conhecer sítios e pessoas que nunca conheci.” Fixar a coreografia é a principal dificuldade apontada por António Gomes, de 75 anos. “Gosto de estar sempre em tudo” e a ideia de fazer parte de “Tempo do Corpo” é um desafio que leva “até ao fim”.

Este grupo tem uma grande diferenciação o que o torna ainda mais interessante”, salienta Sofia Silva. São pessoas com capacidades e dinâmicas diferentes, mas todos respondem ao exercício “e, o mais importante, é que cada um o faz à sua maneira”.