Identificar e intervir no Bullying

Câmara promoveu acção de formação

quinta, 18 de novembro 2010

É obrigatório “estarmos atentos” quando se fala de bullying. Esta foi uma das mensagens de Conceição Osório, psicóloga, que orientou em Estarreja uma acção de formação sobre “Identificar e intervir no Bullying”. O Gabinete de Psicologia da Câmara Municipal e a Biblioteca de Estarreja promoveram esta acção com o objectivo de dotar os formandos de conhecimentos que lhes permitam identificar situações de bullying, causas e consequências e saber quais as formas de intervenção mais eficazes.

Os agentes educativos responderam ao desafio participando na formação. Isabel Nogueira, professora e elemento da CPCJ – Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, considera “essencial ter conhecimento sobre este assunto” tão complexo. “Para intervir nem sempre há formação. Não sabia muito bem o que fazer, que passos tomar para ter uma intervenção eficaz e levo daqui uma série de ideias”, afirmou no final da acção.

“Devemos estarmos atentos aos sinais que eles (vítimas) nos transmitem” que podem caracterizar-se por “dores de cabeça, medo de ir à escola, isolamento ou baixa de rendimento escolar”, exemplificou Conceição Osório. “Os encarregados de educação em casa e, na escola, todos os agentes, inclusive os colegas, têm um papel importante na denúncia e na paragem destas situações”.

O bullying é uma agressão entre pares de que resulta exclusão social, sentimentos de medo e outros efeitos nocivos nas vítimas e ocorre quando um aluno é exposto repetidamente e durante um período de tempo, a acções negativas por parte de um ou mais alunos.

Não se trata de “uma situação de agressão esporádica” mas sim de “uma pressão muito forte e persistente de alguém que tem mais poder sobre outro mais fraco”. E hoje com as novas tecnologias ganha expressão outro tipo de bullying, o ciberbullying. Atitudes como “excluir do grupo, rumores, um filme ou um comentário na internet” podem figurar um problema deste tipo e “acabam por massacrar as vítimas com consequências muito negativas”. Esta forma de violência, de agressão física e/ou psicológica continuada, é exercida de maneira camuflada e os alunos que a sofrem não se queixam.

Identificada uma situação de bullying devem-se accionar um conjunto de mecanismos envolvendo todos os elementos. “É preciso quebrar o silêncio e procurar ajuda. Os pais também silenciam estas situações por medo das represálias que os filhos possam sofrer. É um ciclo muito complicado e nós profissionais da educação temos um papel essencial”, alerta Conceição Osório.

Paula Cruz, psicóloga, que desempenha funções no CLDS – Contrato Local de Desenvolvimento Social, considera que esta aprendizagem foi muito útil. “O bullying é um problema nas escolas e a preocupação é como intervimos”. Face a um problema deste tipo, a psicóloga não tem dúvidas que se deve “denunciar a situação, nunca encobri-la. Só conhecendo que existe um problema é que se pode intervir”.

A oradora Conceição Osório aconselha os técnicos de educação a “ouvir a criança e a recolher informação” para que imediatamente se actue. “O essencial é que aquela situação pare porque está a criar danos significativos na vítima”, nem que para tal a criança tenha que mudar de escola. A intervenção é essencial também junto do agressor.

A psicóloga Paula Cruz sublinha que se deve investir na prevenção. “Acaba por ser mais trabalhoso e custoso intervir quando o problema já está instalado. Reverter os comportamentos é uma acção mais difícil”.

O comportamento violento, cada vez mais banalizado, é por vezes a forma encontrada pela criança para resolver conflitos e afirmar poder. As crianças aprendem sobre violência por observação e experiência, em casa, na comunidade e através dos media.

“Quando a violência é um estilo de comunicação, tem que ser mudada”, adverte Conceição Osório. Os alunos têm que aprender a reagir de outra maneira, através da empatia e assertividade. É necessário desenvolver essas competências nos alunos.

Promover a supervisão dos recreios é outra medida eficaz na prevenção do bullying. “A supervisão nos recreios está a ser menor em virtude das carências económicas mas é essencial”, adverte a especialista. Na ausência de vigilância, “os alunos têm tendência a exibir mais vezes os comportamentos, não o fazem normalmente na presença de um adulto. A supervisão e organização mais correcta dos espaços escolares podem ser estratégias muito positivas”.


Não se adivinham melhores dias. No actual período conturbado de dificuldade económicas, a oradora não tem dúvidas que situações deste tipo têm tendência a aumentar. “A falta de vigilância (nas escolas), as tensões que as crianças trazem de casa, por todo o ambiente social que se está a viver, poderá e deverá haver aumento de bullying, por isso devemos estar ainda mais atentos”.