"A melhor carta" premeia aluno de Estarreja

Concurso sobre a importância de proteger a floresta

quinta, 26 de maio 2011

João Pereira, de Canelas, estudante do 8º ano da Escola Secundária de Estarreja, venceu o concurso da União Postal Universal (UPU), subordinado ao tema "Imagina que és uma árvore. Explica porque é importante proteger a floresta", promovido em Portugal por iniciativa conjunta da Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) e dos CTT – Correios de Portugal.

De um total de 2.484 cartas recebidas, João Pereira, que participou pela primeira vez num concurso literário, conquistou o primeiro lugar no 2º escalão, para idades dos 12 aos 15 anos. A carta representará Portugal no Concurso Internacional de Composições Epistolares, organizado pela UPU.

João, 13 anos, imaginou uma carta de amor escrita por um Salgueiro-chorão e destinada a uma Acácia Mimosa, separados pelas águas de um rio. “Pensei que gostaria de ser um Chorão, pois acho que é uma árvore muito interessante, e em escrever uma carta de amor. Depois, pedi ideias a alguns familiares e  aceitei algumas, como a de fazer a carta para a Acácia Mimosa. Imaginei a história e passei as minhas ideias para o papel”, conta.

 


A CARTA
           

Avenida Marginal, 14 de Fevereiro de 2011

                      Acácia Mimosa

    Na avenida onde me radico, deste lado do rio, avistando-te mesmo em frente a mim na outra margem, dia após dia, há longos anos, fui-me enamorando de ti.
  
   Perante a tua imagem, com esse tronco vertical do qual saem fofos ramos de cor verde - cinza, com pinceladas de azul ao sol intenso dos dias de Verão, nenhum ser vegetal, por mais lenhoso que seja, ficaria indiferente. Fizeste vibrar em uníssono a minha seiva bruta com a seiva elaborada.
 
   Chorão que sou, fiquei irremediavelmente apaixonado.

    A aproximação da Primavera, cobriu-te de continhas amarelas, que escondem as tuas folhas. E é nesse estado que te contemplo hoje, bela como nunca, com ampla copa de ouro novo sobre o fundo azul de um céu sem nuvens.

    Nesse recanto selvagem da natureza, não sei se reparaste em mim, o velho chorão da Avenida Marginal, com os ramos pendentes apoiados num suporte circular metálico, projetando sombra sobre um banco de madeira, onde hoje se senta um casal de namorados.

     Já perdi a conta ao número de pessoas que abriguei do sol ardente em dias de muito calor, qual verde guarda-sol gigante.

     Na sociedade do nosso reino pertenço a um estrato modesto, já que são vulgares os meus atributos: contribuo para a purificação do ar através da fotossíntese, projecto sombra, as minhas folhas mortas são húmus natural para o jardim onde me plantaram.
Porém, a minha madeira não é famosa para a construção de casas e mobílias como a dos nossos conterrâneos pinheiros e eucaliptos, e, muito menos para o fabrico de mobiliário de estilo como o carvalho, a nogueira e o castanheiro. Isto para não falar dos nossos parentes nobres e exóticos como o mogno, a sucupira e algum pau-preto. Dos meus ramos Faz-se linda cestaria e móveis artesanais de recorte tradicional ou moderno.

    Bravia e nascediça como és, julgo que não terás preconceitos de classe e que irás aceitar o meu amor. A minha nobreza está nos sentimentos.

      Tal como podes ver, dou abrigo e bem-estar aos mais encarniçados inimigos das árvores: os homens. Na sua avidez de dinheiro e riqueza, destroem sem piedade a vida do nosso reino esquecendo que, sem nós, nem sequer poderiam viver.

      Quem produz o oxigénio que respiram?
      Quem favorece o ciclo da água, impedindo a secas que os destruiriam?
      Quem produz o combustível, lenha ou petróleo, alimentandas as suas empresas e deslocações?

      E o papel dos livros das grandes bibliotecas e dos mais pequenos panfletos, onde se guardam e circulam os pensamentos das suas mentes, quem, quem lho fornece?

       Destroem-nos mas continuamos a cumprir um Destino terreno, no seio da mãe Natureza onde, como dizia Lavoisier «nada se perde, nada se cria, tudo se transforma».

      A minha capacidade de dádiva e generosidade para com os humanos é tão grande que lhes forneço a minha casca como matéria-prima para a produção de aspirina, um medicamento de grande valor terapêutico. (Salix é o meu nome latino, que entra na composição do nome da aspirina, ácido acetilsalicílico.)

      Mas deixemos as divagações sociológicas e terapêuticas…

      Perdoa o meu auto - elogio. Queria somente valorizar-me aos teus olhos, para que não me desprezes e aceites os meus sentimentos.

       Olha bem em frente, para esta margem do rio e verás a verdade do que te afirmo.
       Um pombo-correio que costuma pousar nos meus ramos levar-te-á esta carta.
       Lê-a com muita atenção. O mesmo mensageiro trará a resposta logo que lha entregues.
       Não demores. Ficarei à espera ansiosamente.
       As águas do rio que nos separam passarão a ser o elo da nossa união.
        Não nos abraçaremos, nem nos beijaremos… como acontece no amor animal, mas na contemplação mútua viveremos um amor platónico mais puro e duradouro.

                                                 Para sempre teu,
                                                 Salgueiro Chorão

[Texto elaborado de acordo com as regras do novo acordo ortográfico]