Deficientes necessitam de centro de acolhimento

Abertura do Ano Lectivo na CERCIESTA

segunda, 10 de outubro 2011

“Há muito ainda a fazer no distrito de Aveiro” ao nível de respostas sociais no campo da deficiência. A constatação de Helena Terra, directora do Centro Distrital de Segurança Social de Aveiro, na deslocação à CERCI de Estarreja, durante a sessão que assinalou a abertura do ano lectivo.

“A taxa de cobertura de respostas sociais na área de intervenção das pessoas jovens e adultas com deficiência está muito abaixo daquilo que seria expectável”, afirmou um dia antes da inauguração de equipamento social em Albergaria-a-Velha, da APPACDM – Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, reforçando que mesmo com a nova estrutura o distrito continua com necessidades “muito acima da média”. A responsável aproveitou para reforçar a importância da aproximação deste tipo de instituições à comunidade e do papel do voluntariado.

Maria de Lurdes Breu, presidente da instituição, quer contribuir para uma resposta mais eficaz que passa pela instalação de um CAO – Centro de Actividades Operacionais “mais diversificado, com uma maior dimensão”; pela existência de um CRI – Centro de Recursos para a Inclusão, que sirva a comunidade “e não apenas os agrupamentos escolares”; e a construção da Casa da Sr.ª do Monte, um lar de acolhimento para casos emergentes.  

“A crise é assustadora mas não minga as contingências malévolas que as vezes se cruzam com os nossos alunos: morte ou doença grave do suporte familiar, casos de violência, abuso, negligência”, lembrou Maria de Lurdes Breu que tem como objectivo “criar um tecto acolhedor. O nosso nicho de intervenção é construir um lar transitório”, até que se encontre uma solução definitiva para os cidadãos em risco.

Maria de Lurdes Breu apresenta duas soluções possíveis: a ampliação das actuais instalações da Fontinha, com a entrega das oficinas municipais, ou a cedência por parte da Câmara do edifício do Agro, de forma a “salvaguardar a população deficiente de Estarreja que faz parte do todo igual. Vamos analisar, comparar custos e decidir, já perdemos muito tempo”, afirmou.

Com 33 anos de vida e com cerca de 60 utentes, a CERCIESTA “é uma escola que tem que ter um carinho especial. Neste partilhar de preocupações, temos que estar presentes e temos estado presentes. Continuamos a apoiar, estamos a ultimar um protocolo para as comparticipações e este trabalho conjunto tem que ser continuado”, referiu o vereador da Educação da Câmara Municipal de Estarreja, João Alegria.

Quanto aos anseios da CERCI, “vamos continuando a conversar”, garantiu João Alegria que também focou a “partilha que a comunidade deve ter. Isto é uma responsabilidade de todos”.


Utentes dão o seu testemunho

Durante a sessão, que contou com a presença de representantes de vários organismos locais, dois utentes da CERCI deram o seu testemunho de vida. Paulo Jorge, representante da Comissão de Clientes, estrutura criada recentemente, também lembrou as limitações físicas da instituição. “A nossa casa é muito pequenina mas mesmo assim muito acolhedora. É pena não termos mais espaço”. É na tecelagem que Paulo Jorge, deficiente visual, encontra a sua realização pessoal. “Encontrei o sítio adequado para mim”, lembrando que teve uma “adaptação extraordinária, com a ajuda de todos”.

Este ano, Paulo Jorge cumpriu um objectivo muito importante, conseguiu a certificação ao nível do 2º ciclo, no CNO – Centro de Novas Oportunidades do Antuã. O processo de validação e certificação de competências “é uma mais valia, foi muito gratificante entrar na Escola Conde Ferreira para fazer o 6º ano”, afirmou com grande satisfação. Confessava que avançou “com algum medo” mas deparou-se com uma equipa preparada para lidar com a sua deficiência e agora quer continuar para o 3º ciclo.

Pelas mesmas razões, este foi também um ano “muito importante” para Margarida Beirão “porque fiz o 6º ano”, afirmou. Esta utente também falou da sua experiência na instituição e nas actividades que mais gosta, como a costura, a cozinha e a tecelagem. “Quando vim para aqui, não sabia nada, fui aprendendo”, testemunhou, com o “apoio e força” dos colaboradores da CERCI.

Motivado por este novo passo na sua vida, Paulo Jorge rematou dizendo que “já perdi muitas oportunidades, mas as que aparecerem eu não as vou negar”.