Reemerge uma embarcação típica de Estarreja

Bateira Erveira de Canelas volta aos canais do bocage

quinta, 08 de novembro 2012

O BioRia e o projeto Estação-Viva promovem o bota-abaixo de uma Bateira Erveira de Canelas, uma embarcação típica do Baixo Vouga Lagunar e originária do concelho de Estarreja. A bênção da embarcação será seguida do bota-abaixo, no Ribeiro de Canelas, no próximo sábado, dia 10 de novembro, às 14h30.

Financiada pela Câmara Municipal de Estarreja e pelo PACOPAR - Painel Consultivo Comunitário do Programa Atuação Responsável, envolvendo um valor global de 3380 €, a construção da bateira concretizou-se no âmbito do projeto Estação-Viva, instalado no antigo edifício do Apeadeiro de Canelas. A embarcação foi construída por Manuel Pires, último barqueiro da freguesia de Canelas e também detentor da sabedoria para a sua construção.

Esta iniciativa pretende revitalizar uma embarcação já extinta, que em tempos era exclusiva do sul do concelho de Estarreja. A nova erveira vem-se juntar ao até agora único exemplar existente, em exposição no Museu Marítimo de Ílhavo.

Futuramente, o BioRia pretende utilizar a bateira para a realização de visitas ao “coração” do bocage, que de outra forma não seriam possíveis. Noutros tempos, a sua utilização observava-se nas valas e esteiros da região entre Vouga e Antuã, devido à sua robustez para transporte de gado marinhão, pastagens e cereais dos campos do Baixo Vouga.

A “Bateira Erveira de Canelas” adquiriu esta designação pelos estudiosos da etnografia da Ria de Aveiro ao registarem-na em maior número e em maior construção na freguesia de Canelas.

A técnica de calafetagem utilizada, recorrendo ao breu negro e casca de arroz, permitia uma maior duração e resistência no seu contacto com águas doces e salobras, assim como nas grandes variações de caudal durante o ano, que oscilavam entre cheias e secas, ambientes estes tão adversos às madeiras.

O cavername é constituído por madeira de oliveira e carvalho, sendo o revestimento posterior a pinho. As suas medidas, inferiores às do moliceiro, com apenas 14 cavernas, 80 cm de pontal e 2m de boca, faziam com que esta embarcação se adaptasse com maior ligeireza às valas características do biótipo bocage.